domingo, 28 de setembro de 2014

Crônicas semanais da vida diária#6


Amores especiais

Era um rio de pés apresados. Um rio barulhento cheio de sons desconexos. Um rio que passava e não olhava em volta...e eles estavam lá. Cada um em uma margem e no meio daquele barulho todo ele não a via nem ela a ele.  
Eles não tinham rosto, eram qualquer um. Mas,  apesar daquele rio, eles sentiam, cada um a sua maneia, a presença do outro. Não tinham rostos e isso não importava pra ele ela era Ela e pra ela ele era Ele.
Contava a lenda que a muito tempo outros sem rosto, iguais a eles, tinham conseguido atravessar o rio e se encontrarem, mas eles eram novos demais e a cada tentativa de pisar a margem o rio se tornava mais violento. 
Os meses foram passando...
Ambos cansados deitaram na margem sucumbidos pelo rio.
Foi então que o vento assobiou...
Não uma assobio manso, não uma assobio forte, mas um assobio capaz de levantar saias e despentear cabelos e foi nesse assobiar todo que o vento levou a fita amarela  e desalinhou a trança. Vento que assobiando carregou a fita por sobre o rio e que fez o rio parar para assistir a fita sendo tirada pra dançar. A fita amarela e o vento em um balé magistral 
Foi nesse instante que o rio silenciou,
E então pé ante pé Ela o atravessou...
E enquanto o vento assobiava para a fita dançarina ela chegou na outra margem e eles se viram.
Nesse instante o vento que a nada se prende parou de assobiar para a doce fita amarela que se deixou caiar exausta e magoada no meio do rio que voltou a correr ligeiro e barulhento,
E Ela e Ele seguiram...Ela ainda não via e nem compreendia muitas das coisas que Ele falava e Ele só queria segui-la.
E foram andando lado a lado, junto a margem, virar lenda....Como aconteceu a muitos anos atrás.


domingo, 21 de setembro de 2014

crônicas semanais da vida diária #5

Esperas

Salas de espera....Lugares onde ficamos algum tempo convivendo com desconhecidos e suas esperas particulares. Alguns esperando um novo amor, outros esperando reencontrar uma pessoa querida, esperando conseguir pagar todas as contas, esperando que dê tempo de ir ao mercado, esperando que tudo dê certo na cirurgia, esperando por bebês, esperando o aniversário chegar, esperando o casamento, esperando um milagre... o futuro sempre tão presente nas salas de espera.
Naquela sala, em particular, estava uma mulher sentada contidamente entre duas pessoas que assim como ela esperavam. Qual seria a espera particular dela? Rever o filho que estava em outro país e tinha acabado de ser papai? Poder dançar com seu amor como na primeira vez que se viram sem sentir as dores do peso e da idade? Viajar para conhecer novos lugares?
Ela já estava ali há quase duas horas quando a cabeça não sustentando o peso da espera tombou para trás. Nessa espera toda adormeceu. E como uma criança arteira que aguarda os pais se distraírem o tempo saiu para brincar com o futuro e os sonhos e a mulher relaxou adormecida na cadeira daquela sala...E roncou!
Aquele ronco tão representativo daquele lugar e daquele momento foi tão alto que acordou até as alegrias adormecidas pelo passar das infindáveis horas. E todos que a tudo assistiam envoltos em esperas particulares deixaram a gargalhada se soltar dos grilhões das horas e escorrer pela alma até saírem pelos lábios sonoramente satisfeitos. Amigos silenciosos que se fazem nas esperas coletivas.

Crônicas semanais da vida diária #4


Pronomes Pessoais I


ELA

Ela desceu as escadas da estação de trem rumo à plataforma. Vestido estampado, batom vermelho e um celular branco na mão. Aparentava felicidade e trazia nos lábios um sorriso vazio que só as ilusões que construímos para nós mesmos nos permitem ter.
Chegou de manso e puxou assunto.
Contou do namorado que a buscava sempre, mas haviam roubado o carro dele e ela estava indo encontra-lo. Ele morava em um bairro distante, mas esse não era problema para ela mesmo estando cansada. Aparentemente o ato de busca-la fazia parte de um ritual. Buscar e trazer religiosamente no mesmo dia e no mesmo horário. 
Ela se cala e estabelece com ele uma conversa freneticamente silenciosa ao celular e, após alguns minutos, retoma do nada os relatos de suas aventuras amorosas. Depois, desistindo de falar sentou. Acho q não fui uma boa ouvinte, pois logo a seguir puxou conversa com o rapaz sentado no banco e que se mantivera calado até seus pensamentos terem sido assaltados pela moça de lábios vermelhos que punhetava energicamente o celular. 
Ela repetiu a mesma história com os mesmos atores e passei a perceber a necessidade de reafirmar o ritual dela e do namorado. Passei a observar, de fora, suas palavras e elas me pareceram tão vazias como quando narrou sua história pra mim. Mentiras repetidas tantas vezes se tornam verdades. E ela queria tanto acreditar naquela história.

ELAS 

Elas estavam se vendo pela primeira vez e logo iniciaram um diálogo. Enquanto lavava o cabelo da cliente iam, ambas, lavando a alma das sujeiras que às vezes impregnam a vida como aquela gordura q enfeia a cozinha quando fica muito tempo sem ser removida das paredes.
Foram para a cadeira, cliente e cabelereira, e ambas teceram suas dores. O barulho do secador era a trilha sonora daquele momento e iam madeixa a madeixa destecendo as traições e os abandonos pelos quais tinham passado (uma a dois anos a outra a dois meses). Almas escovadas pela vida e por pessoas confusas que surgiram no decorrer de suas histórias. Elas desfiavam seus contos e assim se descobriram mais fortes. Uma mudando o visual na esperança que ao matar a si mesma (simbolicamente falando) possa enterrar o passado que sobrevive a passagem do tempo. A outra tentando suportar a dor e a culpa de um sentimento que flui por uma estrada de mão dupla, mas cuja uma das vias, apesar da placa de permitido, não tem o trânsito liberado.

TU 

Tu desfiavas no papel frases de libertação. Não conseguia expressar de outra forma a verdadeira avalanche de idéias que no meio da madrugada a acordara. Pegou seu velho caderninho de anotações e ali começou a rascunhar as primeiras frases que passam em sua mente sonolenta até adormecer abraçada ao caderninho, seu confidente de muitas madrugadas. 
Suas bochechas sugando avidamente as palavras daquele rascunho:
Amargas favas de felicidades ilusórias
Realidades de um tempo que nunca tive
Teus sonhos e tuas histórias
Construí nas teias das minhas cicatrizes.
Teu amargor já conheci 
mas és o remédio que cura a dor 
das rotinas das relações vis.

Crônicas semanais da vida diária #3


Entre chocolates e granolas

Idas a mercado são sempre interessantes para quem gosta de observar, transitar e dialogar com seres humanos. Confesso meu lado investigativo comete pequenos crimes amadores como observar a intimidade alheia presente em carrinhos superlotados (ou nem tão lotados assim). 
Carrinhos de mercado me falam um pouco daquela pessoa ou me fazem criar histórias mirabolantes sobre aquele ser e invasão de privacidade se torna meu pequeno delito secreto. 
Quando o alvo da minha investigação facilita minha vida as descobertas não deixam de ser menos interessantes. 
Por exemplo, aquela mulher jovem e bem vestida que vem caminhando tranquila e sem carrinho pelo corredor de gordices e alimentos naturebas (sim, pois colocam Deus e o Diabo te olhando inquisidoramente pra saber se vc não irá cometer o pecado da gula) foi a primeira que despertou minha curiosidade um dia desses.
Me perguntava, quando a avistei, para qual lado ela iria se render quando ela parou sorridente ao meu lado (Deus venceu uma batalha) e disse amigável:
- Será que essas farinhas são boas? Não tenho coragem de comer isso....
Fiquei me questionando se ela queria iniciar alguma dieta...Sem carrinho fica tudo mais difícil.
Falei:
- Nada disso aqui é saboroso moça. Tudo ruim mais precisamos comer então...
Ela sorriu, mas dessa vez foi um sorriso diferente meio amargo e eis q ela me deu mais uma pista. Olhei para suas mãos, sem aliança como suspeitei. Ela tinha passado por uma desilusão.
Ela falou confirmando o que havia pensado:
- É sempre assim né? Tudo q é gostoso faz mal pra gente. Até homem...
Opa!! Estava certa, eu pensei. E sem que respondesse ela continuou no seu pequeno momento divã.
- Bom, mas não é para mim mesmo é para o meu filho é melhor deixar ele escolher.
Tracei o perfil: Separada, o marido que quis terminar o relacionamento, com filho adulto e marombeiro.
Sorri mais uma vez concordando mentalmente e nos despedimos. Ela seguindo sua vida em busca do alimento saboroso que não pese tanto no estômago e eu em busca de mais um crimezinho investigativo.
Ambas engolindo pessoas até achar aquela que iremos saborear.

Crônicas semanais da vida diária #2


No consultório....


Nove da manhã e você entrando na sala de exames eis q quem te recebe é um médico simpático e sorridente com mãos suaves, por volta dos 40, cabelos e barbas grisalhos e cheirando a pasta de dente e perfume caro...minha Deusa interior deu pulinhos!

Após as explicações iniciais sobre o exame e uma apagada de luz inicia-se o diálogo:
- Você precisará tirar o vestido!
- Ahhh...ok. (pessoa tira o vestido de forma constrangida e atrapalhada)
- Vou usar muito gel....seria melhor se retirasse o sutã...
-O sutiã tb? ...ok
- Por favor agora deite de lado....
E começa o troço a passar por baixo dos peitos, do lado, em cima.... me movimento e ele pergunta:
- está doendo? 
-Não estou me posicionando para q vc consiga pegar melhor...
-estou pegando...
Mais algumas mudadas de posição e você e o médico simpático terminam!
Vocês apertam as mãos se despedindo e depois de catar sua vergonha você saía correndo da sala ele te chama e diz:
- Qd estiver no hospital tal fazendo sua cirurgia me procura eu estarei no setor de exame tal!
Você sorri simpática e pensa: Acho q ele gostou dos meus peitinhos!

Crônicas semanais da vida diária #1

Drogas



Percebi q essa semana as drogas fizeram parte da minha vida...

Fui essa semana ao médico, porém a consulta acabou não acontecendo, pois o transito estava uma DROGA e construíram a DROGA da BRT quase dentro do prédio onde se localizava o médico. 
Resolvi, então, voltar para casa e a van que me traria para o conforto do meu lar parou. Quando entrei lá estava um sujeito sentado ao lado do motorista e euzinha tive que vir sentada na janela. Acabou que estar sentada na janela se mostrou muito útil e foi minha salvação, pois dentro da mochila o sujeito carregava DROGAS e sei disso pois o cheiro da erva empesteou a parte onde estávamos eu e o motorista.
Estávamos ficando doidões com aquela marolada herbal e optei por vir a viagem inteira com a cabeça para fora da van.
A pessoa, um senhor idoso, soltou e eu e o motorista agradecemos em coro isso. 
Alguns pontos adiante soltei e fui ao mercado e um usuário de DROGAS veio pedir um dindinzinho para nocautear a massa disforme que já devia ser seu cérebro. A pessoa vinha fazendo voz de criança (pq de criança sentimos pena né?), porém tinha mais de 40 anos.
Fiz o que tinha q fazer no mercado e atravessei a rua para esperar a amiga q traria meu celular que havia esquecido no trabalho...passei o dia sem cel, uma DROGA!
E eis que para minha "sorte" outro usuário de DROGAS veio pedir dindin para alimentar seu vício...
Chegando hoje ao trabalho descobri que uma mãe lunática havia xingado as professoras da escola. Adivinhem de que? DROGADAS!!!
Aeeeee.....
Realmente agora entendo pq minha aluna me desenhou com um cogumelo atrás...Tá tudo uma DROGA!